Entrevista com o ativista e microempreendedor Edilmar Bispo
Entrevista com o ativista e
microempreendedor Edilmar Bispo
Antes de responder as perguntas plausíveis deste Blog Catinga-de-Porco
do blogueiro e historiador Professor Calebe. Quero dizer que é um prazer ser
entrevistado por este distinto que é cultura viva aqui na nossa pequena cidade
de Cristino Castro.
1.
Fale um pouco sobre suas origens.
Sou natural de Manoel Emídio e filho de Maria do Carmo Bispo da Cruz
(Maria do DUDU) e de João Valdo Lino da Cruz (DUDU), dois guerreiros que
lutaram para criar e educar 16 filhos e um neto num interior daquela cidade.
Morei até os meus dez anos no interior da mesma conhecido como Corrente
das Flores, na época tinha pouco mais de 800 famílias morando lá. Devido a
saúde de meu pai JOÃO VALDO LINO DA CRUZ (in memorian) tivemos que morar na Cidade
de Cristino Castro. Ao chegar aqui eu e meus irmãos, todos analfabetos porque
lá não tinha escola, então começamos a estudar a partir do primeiro ano sem
sermos alfabetizados, ainda peguei uma aceleração onde tive prejuízo escolar
até a 7ª. Mas já continuo nesta fala porque quando chegamos aqui nós fomos
morar em uma casa doada pela nossa tia Aparecida no Bairro Mutirão e naquela
época nossos pais que só sabiam trabalhar de roça não tinham onde trabalhar.
Então, foi aí que em 1999, mesmo ano de nossa chegada até o início do ano 2000
a casa foi mantida por mim, Edilmar Bispo, e por meu irmão Edilberto Bispo.
Saía de casa às 4h da manhã para vender pão para o seu Zé Padeiro, isto durante
a semana até às 8h da manhã que era quando voltávamos para casa e tomava café e
às 9h da manhã a gente pegava os isopores com Din-din para Vender no famoso
Pau-da-Fome até às 11h, aí retornávamos para casa para irmos para a escola, nos
fins de semana vendíamos pão de manhã e à tarde e ainda vendia puba na feira,
roupas nas barracas nos festejos e assim por diante. No ano 2000 meu pai
consegui um terreno no povoado Barra do Sítio onde fomos morar até os dias
atuais. Esse é um pouco das minhas origens e como nos firmamos aqui.
2. Qual a importância da Capoeira na sua
vida?
Quando comecei na Capoeira
em 2005 comecei para aprender a me proteger porque eu apanhava muito na rua.
Então eu comecei a fazer capoeira escondido por que meus Pais não queriam por
causa do meu problema de érnia no umbigo. Então eu não podia, mas fazia
escondido e fui vendo quer a capoeira ela ia além da proteção e estava na
cultura, nas danças, ela está no caráter do cidadão que ela transforma. Hoje
sou um professor de capoeira, da ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA E CULTURAL NEGO NAGÔ
CAPOEIRA - MESTRE CHOCOLATE. Quando fui confirmar minha graduação em São Paulo
dia 07 de Maio do corrente ano fiz um curso de arte e capoeira com um dos
maiores Mestre, o tão Famoso Mestre Suassuna do Cordão de Ouro, aprendi que a
capoeira tem que ser mais que jogar as pernas para o ar, ela tem o papel de
transformar os jovens que estão lá nas favelas usando maconha e transformar em
cidadãos de Bem e de respeito. Estou falando que a capoeira deve fazer parte
das disciplinas escolares. Porque se dentro das escolas não tiver Disciplina
para disciplinar e ensinar os valores da cultura trazida pelos quilombolas que
lutaram para conquistar este espaço nunca vai haver aprendizagem nas favelas
Esse papel só quem pode fazer é quem tem acesso às favelas e que sabe fazer
políticas publicas, foi isso que a capoeira me
ensinou. Veja este vídeo: https://m.youtube.com/watch?v=MZJlQG6v5kA
3. Como foi sua primeira experiência no
ativismo social?
Minha vida no Ativismo
Social começou em 2009 quando fui convidado pelo o Padre Nonato e pela a Rita
Sousa (Rita da Cáritas ou Rita do Niná) para participar do encontro de
avaliação e elaborar de metas para o ano de 2010 em Parnaíba pela a Rede
Cáritas Brasileiras. Isso eu já cursava o 1ª ano do ensino médio e daí quando
participei daquele encontro na categoria de ouvinte e lá foi proposto uma
visita ao lixão de Parnaíba e às casas destruídas pelas enchentes daquele ano.
Esta visita tinha como objetivo criar o SOS SOLIDÁRIO para ajudar aquelas
famílias. Quando chegamos àquele lixão e nos deparamos com a cena de uma
senhora disputando um pedaço de frango com um urubu - naquele instante todos
entraram em estado de choque e eu voltei convicto que eu tinha que fazer algo
pelas pessoas que estão em áreas de Risco Social. Daí por diante rodei quase
todas as cidades do Piauí levado meus trabalhos voluntários para as pessoas que
precisavam e ainda fui participar do intercâmbio nacional no Maranhão
onde participei das construções das casas destruídas por uma enchente na
comunidade Unha de Gato daquela cidade de São Luís. Logo que terminei o ensino
médio adentrei no curso de Bacharelado em Serviço Social. Por estes motivos o
ser humano necessita de olhar de Deus que existe nas pessoas, mas que o
capitalismo faz um escudo para não usarmos esse olhar.
4. Lhe conheci em 2010 militando na
Pastoral da Criança. Conte-nos como foi essa experiência.
Naquele ano já estava
entrando na Pastoral da Criança como coordenador onde a mesma estava morta aqui
na cidade, entrei com o intuito de reativar e acompanhar mais de 900 crianças
que estavam sem acompanhamento. Foi algo fascinante, pois além de ter agregado
conhecimento para meu currículo também contribuiu para o que mais gosto de
fazer - trabalhar com pessoas e consegui 80% do meu objetivo dentro de 4 anos.
Mas por causa da faculdade não pude mais continuar como coordenador, mas como
eu me capacitei em várias áreas de atuação da Pastoral eu ainda continuei como
formador dando capacitação para os meus agentes de desenvolvimento. Essa foi
uma das mais belas experiências - acompanhar a criança desde descoberta da
gravidez até os 07 anos de idade.
5. Por que você resolveu ingressar no
Conselho Tutelar de C. Castro?
Para ser sincero um dos
maiores motivos que me levaram a ser conselheiro foi um fato que passou no SBT,
rede de televisão, no programa do Siga bem Caminhoneiro, numa entrevista um carreteiro
mandou um abraço para C. Castro dizendo que era o lugar de novinha mais fácil
que ele já tinha passado. Naquele período o índice de prostituição infantil
estava muito alto, então naquele período me lancei como candidato e fui eleito
em quarto lugar. E estando lá fui presidente, na minha gestão conseguimos
descobrir alguns casos e executar conforme a lei, ECA, pede. Naquele mesmo
período conseguimos o carro do conselho tutelar e ainda manifestamos por
melhores condições de trabalho, como por exemplo, a ocupação do antigo prédio
do estado onde era a delegacia de polícia. Naquele período quase que eu e meu
companheiro Altamiran Ribeiro íamos sendo presos e em menos de 4h o Conselho
Tutelar estava dentro de uma sede, para o bem de nossa cidade. Depois de 04
anos ao sair nós tínhamos conseguido reduzir 65% da prostituição, mais de 20
pontos de boca de fumo e mais de 15 bordeis que aliciavam menores - todos
mapeados e entregues para a Promotoria da época.
6. Você avalia como positiva, sua passagem
pelo Conselho Tutelar?
Sim, sem demagogia alguma
até porque na pergunta anterior citei algumas conquistas daquelas equipes que
participei Apesar das muitas dificuldades conseguimos alcançar alguns objetivos
e cumprir 65% de outros.
7. Você se formou em Serviço Social. Qual a
importância desse curso para sua vida como ativista social?
O curso Serviço Social
veio completar a minha vida no ativismo, pois com ele eu vou poder ter base na
lei para desenvolver projetos voltados para as pessoas que vivem em áreas de
risco. E ainda aprendi muito com o curso, sem contar que para a sociedade um título
de Bacharelado passa mais confiança para as pessoas, mas vejo tanto por esse
lado, em quantos projetos sociais pode ser desenvolvido e como de conhecimento
do Professor Calebe já estamos com o nosso primeiro projeto em andamento.
8. Vamos falar aqui do Edilmar Bispo
empreendedor. Quais seus atuais projetos no campo do Empreendedorismo?
O Edilmar Bispo
empreendedor veio pela a necessidade de ter uma base onde eu pudesse ter essa
liberdade de ser voluntario e não querer ficar trancado em uma sala ao lado de
computador obedecendo a um chefe enquanto tinha um mundo inteiro lá fora
precisando dos meus serviços. Então, com a experiência que adquiri em Balsas,
na Brasil Net Telecomunicações, resolvi a abrir meu próprio negócio com
montagem e manutenção, reparo de cabeamento de redes de computadores. Mas vimos
que o mundo profissionalizante estava precisando de um profissional preparado
para o mercado e começamos com os cursos em diversas áreas e assim surgiu a
VISÃONET CURSOS PROFISSIONALIZANTES. A empresa trabalha com ética, qualidade de
material, compromisso e dedicação, pois a Educação merece ser tratada com
carinho e assim vamos desenvolvendo nossos projetos e com a montagem e
manutenção temos já 03 empresas clientes a BrasilNet, Clínica Doutor Leandro Dias
e Protética. Temos alguns projetos educacionais que prefiro não comentar, pois
ainda está em fase de estudos e Análises SWOT.
9. Então, atualmente você trabalha com
formação continuada, cursos, Educação. Na sua visão, qual a importância da
Educação para a transformação da realidade?
Essa é uma pergunta
bastante pertinente porque para falar de Educação temos que nos ater ao
significado da palavra EDUCAÇÃO (“aplicação dos métodos próprios para
assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser
humano; pedagogia, didática, ensino”.) O que eu quero dizer aqui é que
passamos 06 meses discutindo uma emenda constitucional para aumento do salário
de um deputado, de um senador, etc. E quando vamos discutir educação temos
apenas 3h para discutirmos o futuro de nossos filhos, de uma sociedade. Então
temos de parar de dizer que a Educação é futuro da nação como poderá ser o
futuro ou a salvação da nação se não nos importamos que aquilo mais belo de
transformador que pode existir? Essa foi um crítica que levei para a
conferência de Educação realizada alguns dias atrás. Então professor, a
Educação não tem importância alguma quando não há tempo para discuti-la, por
isso que nas nossas empresas se nós tivermos 10 alunos eles vão ter uma atenção
toda especial. Se tivermos 100 alunos os mesmos terão a mesma atenção especial
porque quando uma escola entrega um diploma para um acadêmico ela está dizendo
que você está apto para aplicar seus conhecimentos e não vejo que isto está
acontecendo com o nosso Brasil.
10. Na área do Mel, conte-nos como foi ou
está sendo sua trajetória.
E Em 2009 quando terminamos o curso de apicultura com certificação em
Oeiras e ao chegar aqui criamos a AJACC (Associação de Jovens Apicultores de
Cristino Castro) e depois de um ano conseguimos o nosso primeiro projeto de
11.700 reais. Daí pudemos comprar algumas caixas para iniciarmos os trabalhos e
assim se deu, na minha gestão como presidente conseguimos vários cursos e
acento no fórum de economia popular solidária em Teresina e ainda no projeto da
UEPA (Unidade de Extração de Produtos Apícolas) - mais conhecida como Casa do
Mel. Naquele período nós tínhamos bastantes colheitas boas, mas o tempo foi
mudando e hoje estamos com baixa produção, mas ainda empolgado com alguns projetos
de desenvolvimento para a nossa produção.
Obrigado Professor pela a
oportunidade de estar aqui para falar um pouco de mim e dos nossos projetos
sociais e da empresa.
Para
ResponderExcluirÉ um prazer enorme falar desse homem tão importante pra mim ( meu esposo) . Parabéns pelas Vitórias que já alcançou meu amado, voce é um guereiro e merece tudo de melhor!
ResponderExcluirProfessor Calebe parabéns pela entrevista.
Legal! Parabéns a todos: entrevistado e entrevistador
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