Artigo de Opinião de Salvador Rocha sobre Educação

"Há uns anos atrás exerci um cargo, por assim dizer, “importante” no âmbito educacional do nosso município.
Primeiramente explico o motivo das aspas no importante. O cargo era de supervisor de ensino, de baixa capacidade executiva, pois tudo lhe era cobrado e responsabilizado, no entanto havia pouco ou nenhum poder de decisão. Isso sem contar ser foco das mais variadas tramas e picuinhas políticas, coisa de gentinha, que costumam tratar assuntos sérios, seríssimos – como educação – com sentimentos que parecem brotar do intestino grosso e não do coração.
Recordo que durante esse período de minha atuação, contava-se a segunda ou terceira edição de um importante projeto de incentivo no eixo de conhecimento das ciências exatas – a OBMEP – Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas.
A coisa funcionava (funciona) assim: estudantes de escolas públicas fazem uma prova objetiva geral aplicada em todo o país, os melhores, algo em torno de 10%, passavam a uma segunda fase de questões discursivas, e para este, desde que atingissem um nível de excelência, havia premiações: menções honrosas, medalhas de bronze, prata e ouro.
Cristino Castro nunca havia ganhado quaisquer dessas premiações.
Consciente da importância da OBMEP para termos uma espécie de diagnóstico do ensino matemático aqui praticado e um nivelamento com o resto do país, propus uma iniciativa de os professores de matemática usarem da OBMEP como bússola para nortear o ensino de matemática aqui no município. Propus que se preparassem aulas visando à OBMEP, que se o utilizassem das questões do banco de questões da OBMEP para aplicações em atividades e provas dos alunos. Tudo isso visando tanto um preparo para a OBMEP em si - em que Cristino Castro figurasse entre os alunos premiados - como na melhoria do ensino de matemática do nosso município, que passava a dispor de um parâmetro nacional – as notas e premiações na OBMEP.
Tentei envolver os professores. Poucos abraçaram a causa. Alguns, para a minha tristeza, criticaram. Deles que tinham sido meus mestres. Triste a sorte de uma sociedade cujos mestres se demitiram do direito de revolucionar, de sonhar uma sociedade melhor pelo conhecimento que praticam.
Hoje vejo com alegria que alguém que acreditou e viu o que eu também vira colhe os frutos vistos e outros ainda não vistos mas que certamente virão.
Se você não sabe do que estou falando veja a seguinte notícia no site cidadeverde.com: “'estamos no caminho certo' diz professor Amaral após homenagem na 11ª obmep”.
Trata-se de um professor – Antônio Cardoso do Amaral – que urdiu uma prática de permanente preparo dos seus alunos na área de matemática no município de Cocal dos Alves. Colhe os resultados. Certamente eleva a autoestima dos alunos, do colégio, do município. Envolve a comunidade em uma simbiose positiva, em um círculo virtuoso em que todos buscam superar pelo mérito, pelo esforço, as condições de dificuldade e de adversidade e com isso transformam a sua própria e a história de sua comunidade.
É muito bom quando boas atitudes provocam a elevação de valores – a educação pelo estudo.

P. S. : Agora mesmo sabemos que Cristino Castro honrosamente sagrou-se vice campeão nos jogos estudantis. Merece congratulações. No entanto, cumpre-me a chata tarefa de falar o indesejável. O esporte como hoje é feito não tem tanto valor como elemento de construção de cidadania, está mais para o deslumbre de jovens que sonham com a glória fácil e com a posse de carrões e de fama.
O Brasil sempre produziu seus Neymares, Ronaldos, e Pelés, sujeitos famosos porém de pouco ou nenhum valor perante o mundo e a história. No entanto, nunca foi capaz de dar ao mundo um único Nobel.

P.S. 2 : Querem ver o que a prática pedagógica medíocre tem feito por Cristino Castro? Vejam nosso IDEB."
 
Texto de Salvador Alves Rocha, cristino-castrense, acadêmico de Direito, funcionário do Ministério Público do Piauí.
 
Observação: Foto da matéria é meramente ilustrativa

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